quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Depoimentos de Oscar Niemeyer narram como Brasília foi construída


Depoimentos de Oscar Niemeyer narram como Brasília foi construída

Oscar Niemeyer, arquiteto brasileiro expoente da modernidade, morreu ontem, no Rio de Janeiro, às vésperas de completar 105 anos. Nascido em 15 de dezembro de 1907, desenhou curvas que marcaram a história da arquitetura nacional. Em sua homenagem, o História Sem Fim relembra seus depoimentos sobre uma das construções mais singulares e poéticas de nossa História recente: Brasília.
 
Pampulha foi o início de Brasília.”
“Quando eu fui fazer Pampulha, eu fui falar com o JK. E ele me disse que ia fazer um bairro novo em Belo Horizonte. Um bairro com uma igreja, com um cassino, um clube e um restaurante. Quando acabou a conversa ele me disse: olha, eu preciso do projeto do Cassino pra amanhã. Mas eu era jovem, né? Eu estava começando, praticamente era o meu primeiro trabalho. Eu tinha que atender. Fui pro hotel e fiz, trabalhei a noite inteira e no dia seguinte compareci. E ele compreendeu que comigo ele podia correr, não é? E por isso fomos juntos… Pampulha foi o início de Brasília.”
“Numa guerra, o que vai querer? Arma antiga ou moderna?”
“A primeira vez que eu fui à Brasília de avião, a gente foi com os militares. Eu sentei ao lado do Marechal Lott e, no caminho, ele me perguntou: ‘Niemeyer, o nosso edifício vai ser clássico, né?’ Eu até disse, sorrindo pra ele: ‘o senhor, numa guerra, o que vai querer? Arma antiga ou moderna?”
“A vida é um sopro né?”
“O Juscelino passou por aqui, me chamou, descemos juntos pra cidade e ele me disse: ‘Olha, eu quero fazer uma capital. Uma capital diferente. Não quero uma capital provinciana, quero uma coisa bonita, que mostre a importância do país.’ E foi bom, começamos a trabalhar. Eu achei Brasília longe demais, mas depois eu me acostumei com a ideia. Que a determinação de Juscelino era tanta que nós passamos a achar que tudo ia correr bem. E Brasília foi assim uma aventura, cheia de problemas e desencontros, desconforto… a gente mal alojado. Mas havia determinação do JK, e a coisa prosseguiu. Porque eu acho que a vida é assim. A gente tem que separar as coisas. A vida é chorar e rir a vida inteira. Aproveitar os momentos de tranquilidade e brincar um pouco. Depois, os outros é aguentar. A vida é um sopro né?”
“Quando inaugurou a cidade, vieram os políticos”
“Eu me lembro a gente trabalhando lá, frequentando as boates no meio daqueles operários, tudo vestido igual. A gente tinha até a impressão que a sociedade ia melhorar, que os homens seriam mais iguais né? Mas não, quando inaugurou a cidade, vieram os políticos, vieram os homens de negócios, era a mesma merda, a diferença de classes, a imposição do dinheiro, dos negócios, tudo que até hoje anda por aí.”
Poema da curva
Não é o ângulo reto que me atrai,
Nem a linha reta, dura, inflexível criada pelo o homem.
O que me atrai é a curva livre e sensual.
A curva que encontro no curso sinuoso dos nossos rios,
nas nuvens do céu,
no corpo da mulher preferida.
De curvas é feito todo o universo,
O universo curvo de Einstein.”
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